Já eram duas e pouco da manhã.
Preparei uma surpresa para ele, com bastante antecedência, comprei uma cinta liga, bordei um corpete. Tava tudo no esquema!
Ele já sabia que eu tramava algo, porém não desconfiava exatamente do que. Sabia apenas que teria de me avisar 20 minutos antes de descer para o quarto. Eu precisava de um tempo sozinha pra por aquela parafernália toda...
A falta de prática com a tal meia sete oitavos me fez perder um precioso tempo na "montagem". A "bichinha" me parecia ter sido colocada a vácuo.
E ele chega.
Bate na porta.
E meu desespero aumenta!
"Eu não te disse que eram 20 minutos"?
E ele responde do outro lado:
"Já passaram os 20 minutos..."
E eu na guerra com a maldita cinta que enquanto prendia na meia, na parte da frente, ela me fazia o favor de soltar a parte de trás...
"Péra amor, vai valer à pena..."
CONSEGUI!
Pena que já tinham passado mais dez minutos...
Falta ainda colocar o corpete, com uns 40 ganchinhos pra encaixar na parte de trás. Só Jesus! O jeito era abrir a porta e me enfiar no banheiro...
Não!
Tinha que ser perfeito!
Só mais uns minutinhos amor...
E ele calado, do outro lado da porta.
O silêncio dele me deixava mais aflita do que se tivesse xingando meus ancestrais...
Enfim, abro a porta...
TANDAM!
Ele olha com cara de quem gostou, coloca a mão no bolso tira duas fotos e se deita...
Intimidade é uma merda.
Quando ele põe a mão na barriga vejo que definitivamente, todo meu esforço havia sido comprometido.
Mesmo assim, quero ignorar o fato e pergunto:
"O que houve amor"?
E ele dá o parecer que eu tanto temia...
"Minha barriguinha"...
Ok, ok. Fim de papo.
Deitei ao lado dele na cama, resignada. Afinal meu homem não é um objeto. Mas bem que poderia ser só nesta noite de reveillon. Depois de tudo...
Dormi, implorando que no meio da madrugada aquela fera adormecida acordasse.
Mas não.
Ao invés disto, acordo eu, com as pernas dormentes, quase a ponto de terem de ser amputadas por causa das tais meias sete oitavos...
Um espirituoso 2010 a todos!
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